Viajar com sono, não pode! Segurança nas estradas deve ser uma prioridade

Ana Maria Nogueira Rezende*

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  Ter consciência do perigo, todos os motoristas têm.  O sono é um dos vilões das estradas.  Na análise do Atlas da Acidentalidade no Transporte Brasileiro ? 2008/2012, os acidentes causados pelo sono são a quarta maior causa-mortis nas estradas federais do país, de acordo com a gravidade (pág.44). Quando se está com sono ou com os sentidos alterados, a percepção da realidade fica afetada, não se consegue frear devidamente e acelera mais. Pode estar com olhos abertos, mas age mecanicamente.

As estratégias para não dormir são diversas. Vão das anfetaminas, conhecidas como ?rebites? ao simples cafezinho.

Na década de 1960, usava-se o estimulante Pervitin. Tirava o sono, mas causava secura na boca. Os inibidores de apetite, ou ?rebites?, vendidos sem receita médica, tomados com café e coca-cola, transforma o motorista em semi-zumbis, causando até impotência sexual.  Infelizmente, maconha e cocaína também fazem parte do cotidiano estradeiro para inibir o sono. Outras técnicas menos usuais, mas que já ouvi, é o uso de um pano molhado e gelado entre as pernas, o incomodo afasta o sono. Há quem cite até música alta.

Mas a verdade é uma só: o melhor remédio contra o sono ? pra não dizer o único realmente recomendável ? continua sendo dormir, descansar. Assim você não coloca em risco sua vida e de outras pessoas. Entender o sono e a fisiologia do seu corpo é importante. Cada pessoa é de um jeito e reage de forma própria aos estímulos.

Tive a oportunidade de participar de uma palestra do dr. Sérgio Barros, especialista em distúrbios do sono. Ele desenvolve trabalho sobre o sono ao volante, junto aos motoristas de uma empresa de transporte de passageiros do Espírito do Santo, a Águia Branca, localizada na grande Vitória. Seu método foi citado no livro Cultura de Segurança no Trânsito – Casos brasileiros, J. Pedro Corrêa (págs.148-155), para que não ocorram acidentes causados pelo sono. A empresa criou o Programa Medicina do Sono. Investiu em assistência aos motoristas, alimentação correta para o período noturno, cromoterapia nos quartos de descanso, salas de exercícios físicos, estímulos para afastar o sono daqueles que precisam seguir viagem noturna, troca das lâmpadas dos faróis dos ônibus, adequação das poltronas dos condutores, entre outros benefícios para o bem estar dos motoristas.

Atualmente o setor de transportes passa por mudanças, a Lei 12.619/2012 prevê descanso para os motoristas profissionais.

Mesmo não sendo a ideal, é necessário segui-la para que ocorram ajustes no setor de transportes. Sempre é bom avisar a quem vai pegar estrada:

– Durante a viagem, deu sono, pare!  Respeitar os limites do organismo é fundamental;

-Evitar comer alimentos pesados, antes de pegar estrada. Junto com o cansaço vem a fadiga, que diminui a percepção, aumentando o risco de acidentes;

– Evite viajar após o almoço; é o horário mais propenso à sonolência;

– Depois de horas de trabalho, definitivamente você não está apto a dirigir. Alongamentos e exercícios ajudam no processo de estímulo às endorfina e serotonina;

– Cafezinho não ajuda. Apenas retarda a chegada do sono, deixando o motorista estimulado, com a percepção afetada.

 

(*) Ana Maria Nogueira Rezende é historiadora, gestora cultural e autora do livro ?Transportador Mineiro ? História Pioneira?(2012). Pesquisadora e estudiosa da história do transporte em Minas Gerais, participou também da publicação do livro ?Centro- Oeste Mineiro ? História e Cultura?, em 2008.