Uma pesquisa realizada com 1.512 motoristas profissionais que frequentam a Casa do Cliente das empresas Randon apresenta dados reveladores e deixa a pergunta: teremos motoristas profissionais amanhã? A pesquisa foi coordenada por Nereide Tolentino, consultora do Programa Volvo de Segurança no Trânsito (PVST) e especialista em comportamento do motorista.
?Considerando que a continuidade de pai para filho está em declínio, que a profissão oferece riscos e baixa qualidade de vida, e que a característica de liberdade e aventura não existe mais, já que hoje tudo é controlado, corremos o risco de ter um apagão de mão de obra especializada?, afirma.
Atualmente, o Brasil vive a realidade da falta de motoristas profissionais. Estimativas apontam que 10% da frota de caminhões está parada por falta de condutores qualificados. Este número corresponde a mais de 100 mil veículos.
Além da baixa qualidade de vida e dos riscos que envolvem a profissão, outra dificuldade enfrentada pelo setor é a necessidade de uma melhor qualificação, devido à maior sofisticação e alto grau de tecnologia embarcada nos caminhões. ?Durante as entrevistas, ficou claro que o que levou os caminhoneiros mais velhos a optarem pela profissão foi uma remuneração razoável, apesar da pouca escolaridade. Porém, os jovens com maior escolaridade têm muitas outras oportunidades?, diz Nereide.
Do total de entrevistados, 70% revelaram que tinham um sonho de ser caminhoneiro desde a infância e 53% que iniciaram na profissão por influência familiar. O que mais os atrai na profissão é a oportunidade de conhecer lugares (31%), a possibilidade de conhecer novas pessoas (19%) e o sentimento de liberdade (11%).
A pesquisa revela também que 76% dos caminhoneiros informam que a maioria dos colegas de profissão usa rebite; que 59% alegam que têm algum problema de saúde, como dor nas costas, pressão alta, estresse e obesidade; e que 93% considera a profissão arriscada devido ao alto número de acidentes, roubos e assaltos.
Saídas
Uma das saídas apontadas pela coordenadora da pesquisa é uma mudança radical na condição de trabalho do motorista profissional, que não pode se resumir apenas a uma diminuição da carga horária de direção.
?Só reduzir a carga horária não vai resolver o problema. Carga horária e remuneração, apesar de importantes, não são as principais queixas dos caminhoneiros. Ele sente falta de laços afetivos e de passar mais tempo com a família. Qualquer coisa que prolongue o tempo dele fora de casa, ele acha ruim?, argumenta Nereide.
Uma das soluções apontadas pela especialista é o rodízio de motoristas, como já acontece no transporte rodoviário de passageiros. Outra é investir na valorização e no desenvolvimento, oferecendo treinamentos e um acolhimento de melhor qualidade nos pontos de carga e descarga. ?Com um número maior de profissionais satisfeitos, teremos mais gente interessada neste tipo de trabalho, pois viajar e dirigir uma máquina possante é algo que fascina jovens e adultos?, destaca Nereide.
Um dos exemplos de bom acolhimento são as Casas do Cliente que oferecem aos motoristas um ambiente que proporciona qualidade de vida. Além de uma boa estrutura para descanso e higiene, ele recebem uma boa refeição, podem assistir filmes, conversar com os colegas de profissão, jogar e ler livros e revistas deixados à disposição.
Perfil dos entrevistados
Idade
17% têm até 30 anos
65% têm de 31 a 50 anos
18% têm acima de 60 anos
Estado Civil
14% são solteiros
86% são casados
98% têm filhos
Escolaridade
31% cursaram até a 5º série
31% cursaram até 8º série
29% possuem ensino médio
3% possuem graduação
Origem da profissão
70% tinham a expectativa de ser motorista de caminhão desde a infância.
53% iniciou na profissão por influência familiar.
29% trabalhavam em atividades agrícolas antes de serem caminhoneiros
Tempo de viagem
42% das viagens têm mais de 6 dias
42% têm entre 2 e 6 dias
14% têm apenas um dia