Minas Gerais: acidentes nas estradas, uma tragédia previsível

“Hoje, com o acesso facilitado ao automóvel, realizou-se o sonho, mas veio junto o pesadelo.  Motoristas mal treinados pegam as rodovias e se acham imortais dentro dos carros.”

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Ana Maria Nogueira Rezende(*)

As chuvas do último final de semana de julho deixaram uma conclusão para se pensar e pasmar. Em Minas, o saldo de mortes nas estradas foi maior que no feriado prolongado da Semana Santa.  Foram 368 acidentes, 21 mortes, 249 vítimas, sendo 17 colisões frontais.  Na Semana Santa ocorreram 15 mortes.  Seria só a chuva a causa de tamanha tragédia? Não só a chuva contribuiu. Aliam-se a ela fatores como imprudência, ingestão de álcool, velocidade incompatível, ultrapassagens indevidas e vias mal cuidadas.

Outro dia escutei a seguinte frase: ?Uma tragédia não se mede pelo número de mortes.? Não se referia ao transporte rodoviário, mas poderíamos trazê-la para a malha mineira. Possuindo 36.103 km, ficou em 13º no aporte de investimentos da União.

Nas últimas décadas, os automóveis, caminhões, carretas melhoraram muito e com isso ganharam agilidade. Já as estradas não acompanharam o compasso. Minas Gerais ficou muito aquém dos outros estados.  Por aqui, as estradas foram construídas em cima das antigas trilhas dos tropeiros e dos carros de bois. Ou seja, cheias de curvas angulosas.  A própria Rodovia Fernão Dias, ligação com São Paulo, antes da duplicação era assim. Com a obra, reduziu-se a sinuosidade e os tombamentos diminuíram. No entanto, ainda continuam os acidentes.

E hoje, com o acesso facilitado ao automóvel, realizou-se o sonho, mas veio junto o pesadelo.  Motoristas mal treinados pegam as rodovias e se acham imortais dentro dos carros. E sabemos que não é assim. Carro não significa proteção. Abusam-se das ultrapassagens em locais proibidos e desprezam a sinalização existente. Em uma empresa mineira, especializada em transporte de cargas especiais e também de pás eólicas, com emprego de batedores, ouvi uma explicação: ?É inevitável a prática da imprudência dos motoristas?. Eles ultrapassam de qualquer maneira e aí ocorre, o acidente. Quase sempre fatal. Em um deles, foram cinco mortes da mesma família, em batida frontal.

Sou de família de estradeiros, então aprendi a usar a malícia, uma das úteis ferramentas da prudência. Posteriormente, na elaboração do livro Transportador Mineiro – História Pioneira foram ressaltadas ditas mudanças, ocorridas no transporte de carga de Minas Gerais.

(*)  Ana Maria Nogueira Rezende é historiadora, gestora cultural e autora do livro “Transportador Mineiro – História Pioneira”(2012). Pesquisadora e estudiosa da história do transporte em Minas Gerais, participou também da publicação do livro “Centro- Oeste Mineiro – História e Cultura”, em 2008.

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O Livro “Transportador Mineiro – História Pioneira“, de Ana Maria Nogueira Rezende e com acompanhamento do jornalista Luciano Pereira, registra os desafios enfrentados pelos desbravadores do transporte na região em diferentes épocas, citando as empresas pioneiras do ramo e mostrando fotos históricas da atividade com os brutos que transportavam até oito toneladas, uma proeza, para a época, comparável às composições atuais que podem transportar dez vezes mais. Saiba mais em http://transportadormineiro.wordpress.com.

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